‘SE FOSSE UM PASSARINHO, TAMBÉM IRIA VOAR’: A ESCOLA E A EDUCAÇÃO DAS CRIANÇAS EM SITUAÇÃO DE ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL

Resumo

Em defesa de uma escola pública pertencente ao povo e destinada a todos e todas, a luta por uma educação equitativa é dever dos(as) que dela fazem parte. Nessa perspectiva inclusiva, a presente pesquisa objetivou compreender como vem sendo construído o fazer pedagógico no cotidiano da escola com crianças sob tutela do Estado, segundo a percepção de seus professores e professoras. Para tanto, elaborou-se uma caracterização, fundamentada em documentos legais, de quem são os meninos e as meninas em situação de institucionalização pelo viés interseccional, a fim de, posteriormente, verificar e analisar as percepções das(os) docentes sobre essas crianças e sobre a educação a elas oferecida. Trata-se de uma pesquisa exploratória, com abordagem qualitativa, baseada nos seguintes procedimentos metodológicos: análise dos relatórios e dos levantamentos acerca dos dados nacionais e municipais que caracterizam a institucionalização infantil e sua estruturação, bem como entrevistas semiestruturadas com seis docentes que atuam ou atuaram com crianças em situação de acolhimento institucional na Região do Grande ABC Paulista, identificados(as) e selecionados(as) por meio da técnica “bola de neve” (snowball). O referencial teórico dialoga com a epistemologia freiriana, a sociologia da infância e com os estudos sobre interseccionalidade e interculturalidade. Os resultados revelam as escolas ainda como mantenedoras de processos excludentes, balizados por um currículo escolar, muitas vezes, reducionista e engessado, dada a existência de preconceitos e preconcepções estereotipadas, bem como de uma visão da criança sob tutela pública como sujeito da falta, carente, violento, agressivo e triste. Ademais, observa-se uma precária organização escolar, o que culmina em uma prática pedagógica marcada por angústias relacionadas ao fato de não saber como atender às crianças acolhidas, sem que lhes sejam assegurados protagonismo, diálogo e escuta nas decisões que envolvem suas vidas no chão da escola. Os(as) docentes evidenciam não somente a carência de formações acerca do trato com essas crianças, mas também outros dificultadores nesse processo, tais como: a falha comunicação com os serviços de acolhimento; o caráter homogeneizador da própria escola no que tange ao acolhimento desses(as) meninos e meninas; a ausência de clareza quanto aos históricos de vida que os(as) acompanham e a tensão entre as necessidades de aprendizagem, disciplina e afetividade. Em contrapartida, relataram-se possibilidades e estruturaram-se vivências com vistas a uma pedagogia amorosa, emancipadora e humanizada. Como desdobramento dessa investigação, partindo das necessidades e sugestões dos(as) participantes, elaborou-se uma proposta de formação para estudantes, docentes e gestores(as). O objetivo é permitir-lhes conhecer as especificidades das crianças em situação de acolhimento institucional, dialogando sobre a urgente necessidade de rever os currículos escolares, bem como de escutar e olhar a criança acolhida, uma vez que a escola deve ser um ambiente de possibilidades emancipadoras e de combate a toda tentativa de reducionismo e segregação.


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