AS INTERAÇÕES E O BRINCAR NO RETORNO PRESENCIAL À CRECHE EM TEMPOS DE PANDEMIA.

Abstract

O ano de 2021 marcou o momento do retorno presencial à creche após um ano e meio de afastamento dessa instituição educacional devido ao isolamento social imposto, o qual se caracterizou como uma das medidas protetivas estabelecida em todo país para o controle da pandemia causada pelo novo Coronavírus. Foi um período de muitas incertezas, dúvidas, medos, angústias e muitos desafios. Investigar esse cenário constitui-se como uma necessidade, visto que era urgente problematizar esse retorno em meio aos protocolos sanitários, cujas orientações se distanciam da concepção de criança e da educação da primeiríssima infância. Nesse sentido, esta pesquisa teve como objetivo compreender o modo como as crianças ressignificam o brincar e as interações em face ao retorno presencial à creche em tempos de pandemia. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, que teve como instrumentos para coleta de dados: os registros escritos da professora-pesquisadora, áudios, vídeos, desenhos, fotografias das crianças em diferentes contextos de interação e brincadeira, rodas de leitura e contação de histórias. O campo da investigação se deu com crianças na faixa etária entre 3 e 4 anos, no contexto de uma creche municipal de Santo André na qual a pesquisadora atua como professora. O referencial teórico que fundamentou esta investigação baseou-se em estudos e pesquisas da pedagogia da infância, da sociologia da infância, em legislações referentes à Educação Infantil, além de documentos oficiais e cartas abertas acerca dos impactos do contexto pandêmico na Educação Infantil. Os resultados da pesquisa revelaram as vulnerabilidades do tempo marcado por medidas protetivas instauradas na creche, principalmente em relação ao distanciamento entre as pessoas e ao uso de máscaras faciais, fatores que tiveram impacto direto no acolhimento às crianças e na escuta a elas. Meninos e meninas evidenciaram suas necessidades e desejos em estarem juntos(as), afirmando-se como sujeitos sociais. Suas narrativas também manifestaram seus incômodos com o uso de máscaras faciais, uma vez que estas dificultavam a compreensão de suas falas e expressões. As crianças pronunciaram suas leituras de mundo, repertoriadas em tempos de pandemia, por meio de ressignificações nas interações e brincadeiras frente aos protocolos sanitários, de modo a se revelarem capazes de extrair do universo adulto as poéticas infantis e, assim, produzir as culturas infantis. Compartilhar suas emoções e sentimentos nestes tempos de pandemia também foi um ato que se fez presente ao longo da pesquisa, bem como os laços de amizade que foram sendo constituídos entre elas nesta trajetória investigativa. A visibilidade de suas vozes corrobora a potência da escuta atenta às crianças e o quanto elas contribuem para a reflexão acerca do universo infantil e, consequentemente, da educação das crianças pequenas. Por fim, como desdobramento desta investigação, será produzido como produto educacional uma narrativa, por meio de um E-book, no intuito de proporcionar visibilidade às vozes infantis no retorno presencial à creche nestes tempos pandêmicos.

The year 2021 defined the return to daycare after a year and a half of absence from this educational institution due to the imposed social isolation, which was characterized as one of the protective measures established throughout the country to control the pandemic caused by the new coronavirus. It was a period of many uncertainties, doubts, fears, anxieties and many challenges. Investigating this scenario is a necessity, considering the urgency of questioning this return in the midst of health protocols, whose guidelines are far from the conception of children and early childhood education. In this way, this research aimed to understand how children resignify play and interactions in relation to the face-to-face return to daycare during the pandemic. This is a qualitative research, which had the following instruments for data collection: the teacher-researcher's written records, audios, videos, drawings, photographs of children in different contexts of interaction and play, reading circles and storytelling. The field of investigation took place with children aged between 3 and 4 years old, in the context of a municipal daycare center in Santo André, where the researcher works as a teacher. The theoretical framework that supported this investigation was based on studies and research on childhood pedagogy, childhood sociology, legislation regarding early childhood education, as well as official documents and open letters about the impacts of the pandemic context on early childhood education. The research results revealed the vulnerabilities of the period characterized by the protective measures introduced in the daycare, especially in relation to personal distancing and the use of face masks, factors that had a direct impact on welcoming children and listening to them. Boys and girls showed their needs and desires to be together, asserting themselves as social subjects. Their narratives also expressed their discomfort with the use of face masks, as they made it difficult to understand their speeches and expressions. The children pronounced their readings of the world, with a repertoire of the pandemic, through resignifications in interactions and games, considering health protocols, in order to reveal themselves capable of extracting children's poetics from the adult universe and, thus, producing children's cultures. Sharing their emotions and feelings in these times of pandemic was also an act that was present throughout the research, as well as the bonds of friendship that were formed between the children in this investigative trajectory. The perception of their voices corroborates the power of attentive listening to children and how much they contribute to the reflection about the children's universe and, consequently, the education of young children. Finally, as an unfolding of this investigation, a narrative will be presented, as an educational product, in E-book format, in order to provide visibility to children's voices in the face-to-face return to daycare in these pandemic times.